sábado, 18 de abril de 2009

Doce Inocência

Era pra ser apenas mais uma noite de sábado até receber o convite para ir a uma sorveteria. Num passado recente, eu ia com satisfação, mas por algum motivo dessa vez algo me incomodou antes mesmo de sair pelo portão. Não liguei. Paranóia. Saí sem ligar para aquele mal estar psicológico.
Como eu pensava, ao virar a esquina me deparei com uma cena no mínimo estranha: uma menina mal vestida, despenteada, magra, aparentava ter entre cinco e sete anos, sentada com a cabeça entre os joelhos aparentemente chorando em frente à uma casa.
Me chamou a atenção de imediato, mas com a frieza à flor da pele, ignorei por algum instante por eu não ter nada a ver com aquilo. Não teve jeito. A consciência bateu rapidamente fazendo com que eu voltasse para conversar um pouco com aquela criança. Já era tarde, quase dez da noite e uma criança sozinha e aos prantos. No caminho de encontro àquela criança imaginei várias coisas para que aquela menina estivesse ali chorando.
Imaginei que fosse uma das muitas crianças abandonadas da cidade chorando por um prato de comida. Pensei que fosse não uma criança sem família, mas uma menina com pais violentos que, enquanto discutiam, não viram a filha sair de casa. Eu não conseguia chegar a uma conclusão e não havia forma de saber do que se tratava sem perguntar à própria menina. Como um velho amigo, sentei ao lado dela e fiquei em silêncio por alguns instantes. Ela me olhou, com os olhos cheios de lágrimas estranhando minha atitude. Perguntei o nome dela, ao invés de me responder, ela apenas limpou as lágrimas, engoliu o choro e virou o rosto. Tentei novamente mas já perguntando onde ela morava. Ainda sem falar, ela apenas apontou uma casa humilde há uns quinze metros dali. Questionei sobre seus pais, conseguindo enfim algumas palavras da garotinha. Ela me respondeu que a mãe estava lavando roupas e o pai estava trabalhando. Me aliviei um pouco, mas ainda sim não fiquei menos curioso pelo fato dela estar ali. Chamei-a para ir para casa e, com uma voz chorosa, respondeu que não podia. Que tinha que ficar ali. Não discuti. Permaneci sentado ao lado da menina, mas voltei a ficar em silêncio para que a própria criança tomasse coragem e me contasse. Ela me questionou se não iria continuar andando pra onde eu ía. Eu ri e falei que, naquele momento, eu tinha saído para encontrar algum amigo novo e tinha a achado. Ela sorriu e começou a falar que estava ali justamente por causa de uma amiga. Não entendi e pedi para que ela me contasse melhor. Com uma voz inocente me falou:
_Eu vim aqui mais cedo chamar uma amiguinha minha que mora nessa casa, mas ela estava saindo para o hospital e que voltaria às seis horas, mas até agora ela não chegou. Estou preocupada, então sentei aqui para esperar ela chegar e não vou sair até ver minha amiguinha.
Naquele momento eu me despedi e me levantei. As lágrimas que antes escorriam pelo rosto da criança, de alguma maneira saltaram para a minha face.

4 comentários:

Gustavo Alvim disse...

oww Acho que ate eu choreei :) USSAUA'' /tudibom Eugenioo

.má oliveira. disse...

E a garotinha conseguiu encontrar a amiguinha?

Giane disse...

lindo!:')

Lorena Cicari disse...

eu estava na facul lendo, quando anunciaram 'estamos desligando os pcs'... não consegui terminar de lê-lo. Pensei em 'n' motivos para aquela menina estar chorando sentanda e só... todas as possibilidades me assustavam. Quando terminei de ler o seu texto, percebi que tenho deixado medos e situações que vejo no meu curso... tirarem minha inocência: o mundo está ficando feio... além do medo.